II) A LEI DE DEUS:
Segundo tradições antigas, a maioria das traduções modernas emprega o termo “lei” para traduzir o vocábulo de origem hebraica tôrâ. Esse vocábulo está ligado ao verbo hebraico hôrâ que significa “instruir”, “ensinar” ou “instruir em” que, por conseguinte, pode ser traduzida como “instrução”. É o que atesta o texto sagrado de Provérbios 3.1: “Filho meu, não te esqueças dos meus ensinos, e o teu guarde os meus mandamentos”.
Segundo William Lasor os dez mandamentos não podem ser entendidos como lei no sentido moderno, pois não são definidas de modo claro e nem contém penalidades. São, antes, “diretrizes legais”, uma formulação básica do tipo de comportamento que a comunidade se dispõe a manter por obrigação. Quando o povo de Israel aceitou a aliança, surgiu a necessidade de colocá-los numa forma mais condizente com “leis”. Esse desdobramento é encontrado no “livro da Aliança” (Êx 20.13-23.33). Um exame minucioso mostra que a maioria das especulações de Êxodo 20.1-17 se repete nessa seção em forma de leis específicas. (Cf Lasor, 1999).
III) OBJETIVO DA LEI MOSAICA:
Quando Deus livra Israel de terras estranhas sob pesada e cruel servidão e propõe uma grande nação livre, próspera e abençoada, Ele apresenta um conjunto de leis espirituais, sociais e civis que, além de renovar sua aliança feita com Abraão, estabelece princípios de sincera e completa obediência a sua vontade bem como se apresenta com símbolo divino de mais alta lealdade e amor a fim de que o seu povo pudesse andar em plena comunhão com Ele. (Cf Archer Jr., 1988).
A Lei mosaica não pode ser entendida como um meio de salvação para com Israel. Esta nação já havia sido salva do Egito e já era povo de Deus. Agora o Senhor desejava dar-lhe algo que o ajudasse a continuar sendo o seu povo e a ter uma relação mais intima com Ele.
Ao analisar a passagem de Êxodo capítulo 19 e 20, observa-se a presença de Deus em pleno deserto buscando uma oportunidade para estabelecer relações estreitas com seus filhos. Entende-se que Ele busca uma unidade com este povo que, apesar de serem peregrinos em terras estranhas, os ama muito e têm promessas dadas aos seus pais para cumpri-las. Para isso propõe uma aliança através da observância de um decálogo.
Deus, portanto, entrega ao povo de Israel um código sintetizado em dez frases muito breves, porém completos, onde estão imbricados a moral e a religião, tão livres de peculiaridades locais ou nacionais e tão estreitamente relacionados com deveres fundamentais para a existência de uma sociedade civilizada. Segundo Stanley Ellisen, os dez mandamentos, estão fundamentados em dois objetivos:
1. REVELAR OS PRINCÍPIOS ESPIRITUAIS E MORAIS DE DEUS: Quando Deus se manifestou a Moisés e ordenou que apresentasse ao povo de Israel a Lei, Ele estava oferecendo um novo modo de vida para que aquela nação pudesse experimentar e, que, esses princípios fundamentais da lei divina, tinham por objetivo revelar a santidade de Deus e a determinação de que o seu povo também deveria se santo (Cf Mt 5.17 e Rm 3.31). Evidentemente, a nação agora viveria embasada em princípios espirituais e morais estabelecidos diretamente do Eterno Deus. Isto é, Israel doravante estaria estreitamente relacionado com deveres fundamentais de Javé aceitando-o como Rei e Senhor.
2. ESTABELECER ALIANÇA ENTRE O SENHOR E SEU POVO: Quando Moisés fala ao povo todas as palavras que o Senhor o havia ordenado (Êx 19.7) o povo aceita fazer aliança com Deus afirmando solenemente: “Tudo o que o Senhor falou faremos” (v. 8). Sendo assim, o plano de aliança de Deus com o povo estava estabelecido e como tal era condicional e temporário e, sobretudo, um teste para saber se o povo aceitava a Deus como o Senhor da aliança. Se Israel prestar obediência ao Decálogo virá e continuará sendo o povo especial de Deus. Assim disse o Senhor: “Se diligentemente ouvirdes a minha voz, e guardardes a minha aliança” (Êx 19.5).
IV) A ALIANÇA COM ISRAEL NO SINAI:
A palavra hebraica berîl é aliança. É um meio de estabelecer um relacionamento (que não existe por vias naturais) sancionado por um juramento proferido numa cerimônia de ratificação. Todos os elementos que formam uma aliança estavam presentes no monte Sinai entre Deus e o povo de Israel. A palavra aliança aparece 275 em todo o Antigo testamento, sendo 80 vezes só no Pentateuco. (Cf LASOR, 1999 & Smith, 2001).
Segundo Êxodo 2.23-24 “... os filhos de Israel gemiam sob a servidão e por causa dela clamaram, e o seu clamor subiu a Deus. Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Izaque e com Jacó”. Sendo assim, a aliança que Deus fez com o povo de Israel no monte Sinai é apresentada no Antigo Testamento como uma extensão ou cumprimento da aliança que Deus fez com Abraão.
É em Êxodo capítulo 19 a 24 que encontramos uma das mais importantes passagens do Pentateuco e por que não dizer do Antigo Testamento sobre aliança. Smith cita Terrien afirmando que “poucas páginas na literatura da humanidade comparam-se a essa descrição impressionante de um encontro entre Deus e o homem” (Cf Smith, 2001).
Nesta passagem Deus oferece uma aliança a Israel, com a qual todo o povo concordou. Moisés foi o mediador entre Deus e o povo de Israel (Êx 19.3-9). Na manhã do terceiro dia, Deus desceu sobre o Sinai em fogo, fumaça, nuvens, trovão e terremoto (Êx 19.16-25). Então Javé proclamou os Dez Mandamentos da aliança (Êx 20.1.17). Portanto, a lei da aliança foi dada e o acordo entre Deus e o povo de Israel foi selado com sangue sacrificial e com uma refeição comunitária. (Êx 24.1-18).
É importante destacar que, em um aspecto, a aliança do Sinai difere da aliança feita com Abraão. Segundo William LaSor, o que difere é apenas na parte que fica obrigada pelo juramento. Na aliança abraâmica, Deus se coloca sob juramento, obrigando-se a cumprir promessas irrevogáveis feitas a Abraão e sua posteridade. Na aliança do Sinai, Israel faz o juramento e a obrigação é obediência às estipulações da aliança (Cf Lasor, 2003).
Nesta singela ocasião em que o homem tem a oportunidade de estar diante do seu Senhor, Israel comete um desagravo diante de Deus. Antes de deixar o monte Sinai, o povo de Israel quebrou a aliança com Deus fazendo um bezerro de ouro e cultuando-o (Êx 32.3-8). Houve, portanto, um julgamento divino e arrependimento por parte do povo em que, o mediador Moisés, intercede a Deus para que Ele renove a aliança com Israel (Êx 34.10.27-28).
No decorrer da odisséia da nação israelita no deserto, a aliança do Sinai é outra vez renovada, agora com a segunda geração do povo de Israel. Como o povo peregrinou, aproximadamente, 40 anos, a geração que saiu do Egito foi toda sepultada nas terras áridas do deserto e, portanto, não entrou na terra prometida. Ou seja, os sobreviventes da peregrinação antes de entrarem na terra de Canaã, registra Deuteronômios, renovam a aliança do Sinai. (Dt 29.14-15).
V) CONSIDERAÇÕES:
A Lei de Moisés foi para a nação israelita com um “plano de aliança” de benção ou punição. Se o povo obedecesse a Javé seriam abençoados, mas se as observâncias à lei mosaica fossem deixadas de lado o povo seria severamente punido. Sendo assim, a aliança estabelecida com o povo de Israel teve como fator determinante à obediência aos Dez Mandamentos.
Como não houve obediência, Deus pôs fim ao Decálogo. A Lei de Moisés, portanto, teve seu fim na cruz do calvário quando o Senhor Jesus Cristo morreu e se tornou o Sumo Sacerdote, pondo, então, fim ao sacerdócio arônico e à Lei (Cf Hb 7.12). É o que atesta o profeta Jeremias quando anunciou que o Senhor faria uma nova aliança com Israel e Judá, isso, depois que a nação passasse por um período de grande aflição e, conseqüentemente, a comunhão com Deus fosse estabelecida (Cf Jr 31.31-34; 32.37-41).
Os dez mandamentos, por conseguinte, foram por Jesus resumidos em dois mandamentos, que são: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37,39).
VI) CONSULTA BIBLIOGRÁFICA:
DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições VIDA NOVA. São Paulo, 1995.
ELLISEN, Stanley A. Conheça Melhor o Antigo Testamento. Edições VIDA. São Paulo, 2000.
Jr. ARCHER, Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento? Edições VIDA NOVA. São Paulo, 1988.
LASOR, William S. Introdução ao Antigo Testamento. Edições VIDA NOVA. São Paulo, 2003.
SMITH, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento. História, Método e Mensagem. Edições VIDA NOVA. São Paulo, 2001.
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