sábado, 18 de dezembro de 2010

A fé e o uso da razão


Luís Santana Linhares e Eliel Sampaio*

O relacionamento entre a fé e a razão tem gerado muitas divergências, pois muitos pensadores das mais variadas regiões, culturas e épocas debatem sobre a questão de qual método é uma fonte fidedigna da verdade. Seria a revelação ou a razão o caminho da verdade?
Vamos colocar em apreço a filosofia da “revelação somente”.
Para Kierkegaard (1813-1855), qualquer tentativa racional no sentido de comprovar a existência de Deus é uma ofensa contra Deus, porque ninguém sequer começa a comprovar Deus a não ser que já tenha rejeitado a presença de Deus em sua vida. Kierkegaard assevera que as provas são desnecessárias para os que acreditam em Deus. O filósofo e teólogo existencialista, diga-se de passagem, reconheceu somente como única “prova” do cristianismo, o sofrimento dos cristãos que tomam a sua cruz e segue a Jesus.
Karl Barth, contemporâneo de Kierkegaard, sustentava que todas as tentativas de se chegar a Deus mediante a razão eram fúteis e, declarou em um de seus livros que a razão não tem a capacidade ativa nem passiva para a revelação divina; Deus teria de dar sobrenaturalmente a capacidade de entender sua revelação, assim como dá a própria revelação.
Segundo o dicionário Aurélio da língua portuguesa, “razão” é a faculdade de avaliar, julgar e ponderar idéias universais; estabelecer relações lógicas de raciocinar.
O Apóstolo Paulo falou do culto racional (Rm 12.1). A raiz desse termo, no original grego, vem da palavra “logos”, que significa o princípio divino da razão universal. Aqui não é dada a idéia simples de racionalidade; de razoabilidade humana, mas provada [testada] pela renovação da mente.
A palavra “provar”, segundo o dicionário Aurélio é aquilo que atesta a veracidade ou autenticidade de algo; ato que atesta uma intenção ou sentimento.
O Apóstolo Pedro, falando aos dispersos, disse: “para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória na revelação de Jesus Cristo” (1Pe 1.7). No grego, o primeiro substantivo abstrato é “dokimion”. Este termo pode significar “teste”, “prova”, sendo assim a provação mesma se torna preciosa, devido a seus gloriosos resultados, isto é, a revelação de Jesus Cristo.
Deus pôs Abraão à prova (Gn 22) [com a lucidez de arrazoar sobre a ética e a moral] não com a intenção de receber seu filho Isaque como sacrifício, mas para que a razão outorgada a Abraão pudesse servir de teste naquela ocasião. Abraão foi provado com a razão; certamente avaliou, julgou e ponderou em suas idéias, mas creu contra a esperança e foi até o momento em que O Anjo do Senhor bradou “Abraão, Abraão não estenda a mão sobre o menino”.
Pedro disse que sempre deveríamos está prontos para respondermos com mansidão e temor, a quem nos pedir a razão da nossa esperança (1Pe 3.15). Seremos inquiridos a fazer a apologia da nossa fé em meio às perseguições, isto é, a defesa da fé. Compete então a todo cristão que este seja versado no tocante aos fundamentos da sua fé, logo usaremos a razão.
Assim como “Deus é”, a “fé é” e a razão testa a fé, servindo-a, consubstanciando-a, trazendo convicção de coisas invisíveis.
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem” (Hb 11.1). Deus é imutável e a razão é passiva de mudança.

* Acadêmicos do curso de Bacharelado em Teologia, pela Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel

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